PROPOSTA DO PROFESSOR REINALDO KELMER
Podemos continuar a busca por uma resposta a partir das propostas de um grupo de linguistas: os formalistas russos. No começo do século XX, esse grupo propôs-se a construir uma Ciência da Literatura, tendo como preocupação fundamental determinar o que denominavam Literariedade. Os formalistas russos relacionaram a Literariedade ao tipo de linguagem empregado nos textos. O texto portador de Literariedade e, consequentemente, literário; é aquele cuja linguagem difere radicalmente da fala utilizada em nosso cotidiano: possui linguagem literária, também denominada linguagem poética.
Literariedade: é a qualidade inerente ao texto literário.
Com base na nossa aula 1 sobre “O que é Literatura?”, escolham um poema e aponte como a literariedade se faz presente nele, de acordo com o que é assinalado no texto acima. Produzam um texto, com no máximo 5 linhas.
Obs.: Lembrem-se de que o objetivo não é trazer pesquisas feitas em sites que tratem de Literatura, mas sim que vocês pratiquem o que viram nas aulas.
RESPOSTA DE SÍLVIA M. L. MOTA
Caro Professor,
Segue o poema escolhido, da minha autoria.
Notívaga ferida
Noturna caçadora - em plenilúnio intenso,
cavalgo na quimera, a crina ambígua ao vento.
Telúrica visão de punho em arco tenso,
transpasso em flecha a dor que aninha o sofrimento.
Noturna caçadora - ardor de fogo imenso,
sou peito entrecortado, um beijo sem talento.
A lama da tristeza afoga sem consenso
e fere descuidada o riso solto ao vento.
Sou pélago profundo e a maldição que empluma,
o lábio sem perfume e a cor do vento em lume -
vivência pastoril, sem paz ou flor nenhuma.
Saudade é farpa atroz e avanço em pranto e bruma,
ao louco som da morte em seu cruel queixume –
sou trôpego final da fé que não se apruma!
A partir da estrutura e da linguagem utilizada no poema, busco provocar no leitor um “estranhamento”, sob o intuito de que isso o levará à percepção automática do meu pensamento. A literariedade acompanha o texto, por inteiro. Trata-se de um soneto alexandrino, portanto, com 14 versos. Os quartetos apresentam-se com duas rimas alternadas (ou cruzadas): ABAB-ABAB. Os tercetos apresentam-se com duas rimas: cdc-cdc. Privilegiei as rimas ricas (quando as palavras rimadas são de categorias gramaticais diferentes). Exemplos no poema: bruma (substantivo) - apruma (verbo); nenhuma (pronome indefinido) - empluma (verbo). O texto é ritmado: presença da tônica na 2ª, 4ª, 6ª, 8ª, 10ª e 12ª (acentuação Yâmbica) e atendendo a exigência do alexandrino, no que diz respeito à acentuação tônica nas 6ª e 12ª sílabas. Os segundos hemistíquios de todos os versos terminam com palavras paroxítonas (chamadas de palavras graves, por Olavo Bilac e Guimaraens Passos, em seu "Tratado de versificação"). Ao término do primeiro hemistíquio, com palavra paroxítona terminada em vogal, a próxima palavra começa com uma vogal átona ou consoante muda, para haver a elisão.
Alguns exemplos de figuras literárias utilizadas no poema.
Metáforas:
Sou pélago profundo e a maldição que empluma
Saudade é farpa atroz
Assonância:
cavalgo na quimera, a crina ambígua ao vento.
Aliteração:
Sou pélago profundo e a maldição que empluma
MOTA, Sílvia M. L. Notívaga ferida. PEAPAZ, Rio de Janeiro. Minha Página. Disponível em: http://peapaz.ning.com/profiles/blogs/notivaga-ferida-soneto-alexan...
MOTA, Sílvia M. L. Encanto dos sonetos na vida do poeta. PEAPAZ, Rio de Janeiro. Grupo Teoria Literária. Disponível em: http://peapaz.ning.com/group/teorialiteraria/forum/topics/encanto-d...
AVALIAÇÃO DA ATIVIDADE, PELO PROFESSOR
Cinco estrelas
Sílvia,
Análise técnica precisa. Valeu pela contribuição.
RK
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por Sílvia Mota Added 2 maio 2017 às 13:16
por Sílvia Mota Added 2 maio 2017 às 13:12
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